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Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dois poemas de António Aleixo

I

Há dias pus-me na frente
Dum espelho onde me ria...
E ri, ri... ri francamente,
Porque não me conhecia.

Fui no meu rosto encontrar,
Por sobre o sulco dos anos,
A máscara que os desenganos
Me forçaram a usar.

No que o mundo me tornara!...
Quando ri, tornei a rir
De raiva - pra não cuspir
Na cara da minha cara.

Ri mais, porque só a rir
A mim mesmo me iludia...
Mas, se pudesse fugir
Com nojo de mim, fugia!

II

Pensei uma vez assim:
«Paciência... tinha que ser...
Cuspi sangue, foi o fim...
Acabou-se, vou morrer!»

Os amigos, afastados,
Diziam-me, sem me olhar,
Que não me vinham falar,
Pra não serem contagiados.

Ao ver esses fugitivos,
Dizia, com desconforto:
«Morri, antes de ser morto,
Pra aqueles que vejo vivos.»

E quando os via afastar,
Sentia, com mágoa infinda,
Vontade de lhes gritar:
«Não fujam, sou vivo ainda!»

Então, já desesperado,
Preso nas garras do mal,
Era como o condenado
Esperando o golpe fatal...

Vemos o fugaz encanto
Da vida - que é falsidade -
Na morte - que dura tanto
Quanto dura a eternidade!

(retirado de ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO II - editora Casa das Letras)

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