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Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cansei

Hoje cansei a espera.
Cansei-a de esperar por mim.
Cheguei mais cedo. Iludi o olhar que
me lançava com o segredo que escondia.

Cansei-a e saí, obscura a sina que
me envolvia o abraço. Cansei-a e
descansei amores. E fiquei quieta e tranquila,
aguardando o sol e a luz que me traria.

Felipa Monteverde

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Lapas

Há pessoas que são lapas.
Apegam-se-nos, agarram-se.
Sugam o que podem e o que não queremos dar.

Lapas.
Mas nós não somos rochas. Não
aguentamos durante muito tempo
sermos sugados, tolhidos nos movimentos.
E sacudimos essas lapas, afastamo-nos
desse mar. Ou tentamos...

Felipa Monteverde

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ausência

Chamei-te meu amor e era silêncio, na paisagem
dos teus olhos percorri lugares que fantasiei.
Não sei os caminhos que escolhes, sei que o medo
de perder-te faz de mim quem não me sei.

Não conheço a maré que te trouxe à minha praia, o mar
onde navegam os teus sonhos não tem rotas conhecidas.
Meu amor de nenhum tempo, onde a areia onde dormias
onde o barco onde quiseste embarcar?

Já não sei o tempo, o feitio de um amor mais que perfeito
que era sonho e era vida. Chamei-te meu amor e era o medo
silenciando as dores de perder-te, calando as palavras
já mortas e ressequidas além tempo.

Outrora éramos nós, fomos tão nós... tão juntos
tão intensamente unidos... Hoje somos apenas
o silêncio, o cansaço de uma noite, a nostalgia
feita das saudades mais serenas.

Ainda te chamo amor... baixinho, tão baixinho
que nem o meu coração ouve. Perdi-me
no silêncio, na madrugada fria em que adormeço
sentindo-te comigo e tão ausente.

Felipa Monteverde

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O livro da Dulce


Recebi hoje, pelo correio, o livro da minha amiga Dulce Gomes. Dona do blogue DEGRAUS DE SILÊNCIO, a Dulce sempre nos habituou a textos e poemas que nos maravilham a alma.
Lembro-me de, na Quaresma de 2012, durante a Caminhada que fizemos com alguns amigos, cada um no respetivo blogue, a Dulce ter postado num dos seus dias um poema que me agradou muito, tanto que o incluí na Via-Sacra rezada na minha paróquia, quando foi a minha vez de a organizar. O poema da Dulce foi lido como oração final,  por toda a assembleia, apresentado num trabalho de Powerpoint produzido para o efeito.
Não me espanta que a Dulce tenha publicado os seus trabalhos, dada a qualidade dos seus escritos. E espero que este seja o primeiro de muitos, cá aguardamos para os ler.
Parabéns, Dullce.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Pele

Pele.
Orgão do sentido, do tato,
do mimo e do afago. Do abraço,
dos afetos, do desejo secreto ou
demonstrado. Que sente a ternura
do beijo da criança, dá a mão à
esperança, acarinha o velho.

Órgão às vezes maltratado,
ignorado, exposto aos ventos e
marés de toda a vida. Atraiçoado
pelo dono, deixado ao abandono
nas tempestades e vendavais,
sem nenhum barco ou
cais que o abrigue.

Órgão do carinho consentido e
com sentido, sensação, flor,
toque, sensibilidade e dor.
Contacto. O calor, o frio.
Proteção. Sedução. Arrepio.

Felipa Monteverde

(Poema incluído numa brochura da empresa DERMOLUSA para divulgação da sua linha de produtos para a pele, D'AQUA)

domingo, 3 de novembro de 2013

Vaso quebrado

Penetra-me o coração a espada da amargura
o seu gume rasga a vida que não tenho.
Eu era fogo, que lentamente consumiu o lenho em que ardia.
A cinza recolhida em vaso velho e já cansado era eu dentro do tempo.

Ignorante das dores, houve um tempo.
Depois passou, e o futuro doeu.
Era uma espada. E vieram as dores.
O fogo, já extinto, continuou a arder no tempo
mas já lá não estava eu.
O que eu era não resistiu à espada
que o meu peito exibia e alimentava no seu sangue.

Doía. Sim, doía.
Como dói e mata toda a amargura
que o coração transporta e acalenta.

Fogo. Eu era fogo. Em cinza me tornei.
Um velho vaso já quebrado me guardou a vida
quem o atirou da escada?

Felipa Monteverde

(in IV Antologia de Poetas Lusófonos)


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sonho perdido


Perdi um sonho. Perdi-o e não sei onde.
Não sei onde o perdi, onde o deixei.
Talvez tivesse ficado naquele dia de outono
enquanto eu namorava uma fantasia.

Talvez se tenha deixado ficar, ali sozinho
enquanto eu me divertia. Não sei.
Sei que o perdi. Sei que o perdi.

Felipa Monteverde

(in IV Antologia de Poetas Lusófonos)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Orquídea


Hoje é o Dia da Poesia, em Portugal (no Brasil foi no dia 14). 
Para celebrar a data publico esta poesia, já com alguns aninhos:



Na varanda, eu tinha um vaso
com uma orquídea
que me foi oferecida
mas não fiz caso
e não reguei o vaso.
A orquídea foi à vida.
Que pena! Mas a culpa disto
é de quem me ofereceu um vaso
com uma orquídea
que eu não pedi e não queria.
E como não a queria
não fiz caso
e não reguei o vaso.
Pu-lo na varanda
da mesma banda
para onde brilhava o sol
e foi o que se viu:
o sol brilhou
a terra do vaso secou
e como não foi regada
a flor morreu.
Que pena! Mas a culpa disto
é de quem me ofereceu um vaso
com uma orquídea
que eu não pedi e não queria.
No entanto,
quando novamente florir
vou tentar estar atenta
e dar-lhe de beber
para a flor não morrer.

O vaso continua na varanda.

Felipa Monteverde

quinta-feira, 14 de março de 2013

V ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS



Humildemente confesso que faço parte dos 147 poetas, de 15 países, que integram esta antologia. É para mim uma honra que a minha estreia na publicação em papel se faça juntamente com pessoas que amam a poesia e os livros. 
Tenho pena de não poder estar presente na apresentação mas convido todos os meus amigos que moram por esses lados que vão e tirem fotos, para eu ver :)
A entrada é livre.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Princesa encantada




Vivo presa ao passado
princesa encantada por um mago cruel.
Não sei o que faço nem aonde vou
e o mar dos meus olhos reflete as estrelas dos teus.

Vivo presa ao passado
princesa encantada e cativa de amor
viajo na mente de um mago que sei e conheço tão bem.

Cativa deixei que eu fosse por ti
num encanto que um dia fizeste de mim
princesa encantada que olha ao redor
e as estrelas parecem ser tudo e ser nada.

E o mar dos meus olhos reflete o espaço sem fim
onde escondo as estrelas que um dia espreitei e perdi.

Princesa nasci, por ti encantada
cativa de amor num amor que não tens
viajando na mente de um passado breve
que encanta e cativa e solta e prende.

E o mar dos meus olhos reflete o espectro cruel
de um mago sem dó nem amor por ninguém
que me encanta e me prende em estrelas reais
que me tomam nos braços e me levam de volta
a um tempo em que era princesa encantada e cativa de amor.

Felipa Monteverde

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Solitariamente

Passo os dias a correr,
passagem de ninguém por mim.
Solitariamente permaneço num jardim
onde o tempo vai passando e nada resta.

Nada resta. Absolutamente nada.
Nem o tempo me diz aonde ir
em que esferas gozaria a paz e o sonho.
Passo os dias a correr e a cancela não transponho.

Permaneço aqui, a mente em alvoroço.
Sinto-me no cimo de um poço
de águas frias que tentam agarrar-me.

A maré de pensamentos que agita o
mundo em que me refugio
abala a minha mente de tal forma
que a vivo fora de contexto ou norma.

Nada sai do seu sossego.
Nada entra neste espaço onde sou só eu
nas estradas por onde caminho e passo.

É a maré? É o mundo? É o tempo?
Em que consiste este atulhar de pensamento
em que mergulho e de onde jamais saio,
turvas águas de um poço onde caio?

Assim passam os dias. Passa a vida.
Passa o tempo e nada passa junto a mim.
Eu por cá vou ficando, num banco de jardim
solitariamente cansada e aborrecida.

Felipa Monteverde


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Na noite



Perdi-me na noite e o silêncio fugiu.
Encontrei a alma que perdera há séculos
e o espaço que a sustinha. Pairava
lá no ar, solitária e arredia, acima
do futuro que um dia me há roubado.

Como um sonho já passado, relembrado à lareira,
emergia a cantiga e o refrão perdia-se na noite.
E na noite andava eu perdida.

Felipa Monteverde