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Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Cansei-me de ser eu

Cansei-me de ser eu
num existir silencioso e ausente
e saí do meu corpo
à procura de morada noutro porto
ou alma mais ardente.

Por aí andei, numa busca incessante
que se prolongou eternidades.
Eu nada encontrava
do que tanto procurava
impelida por razões e más verdades.

Procurei ser outro tu
ser outro ele ou ela ou alguém
que fosse diferente do que sou
que fosse alma e desejo que me dou
e me fosse refúgio e casto bem.

Mas nada encontrei
nada encontrei que preenchesse
este vazio que me enche o peito
e me fustiga a alma e o preceito
de ser e existir quando morresse.

Hoje contento-me em apenas ser
em existir neste silêncio que sufoca
as lágrimas que choro sem chorar
e os enganos que sofri só por te amar…
A tua ausência é o meu modo de ser louca.

(Felipa Monteverde)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Última tarde

Que tarde, meu Deus! Que eflúvios.
De sons, de aromas, de Luz!
Que doce melancolia;
Que vaga, estranha magia,
Aqui me prende, e seduz.

Tudo me fala! Até as flores
Com o ar triste de quem sente
Findarem ternos afectos,
Volvem os olhos inquietos
Quando eu passo tristemente.

Lá na faixa do horizonte
De rosa e oiro tingida,
O Sol dum rubro pisado,
Lança-lhe um olhar magoado,
- Um olhar de despedida.

Ouvem-se notas dolentes
Num terno adeus a vibrar;
Oh! Ilusão doce e santa!
Não sei se é Schubert que canta,
Ou se é a minha alma a chorar.

Funchal! Eu talvez não mais
Te veja, - terra de encantos!
- Mas as auras hão-de vir
Assim sempre repetir
Meus tristes, saudosos cantos.

(João Reis Gomes (escritor madeirense)
in «Canto da Ilha»;
org. de José António Gonçalves;
Programa da celebração dos 20 Anos
do Centro Regional RTP – Madeira, 1992)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Não sei mentir

Não sei mentir passados que não nego
nos espaços escondidos do meu peito
mas a ninguém contarei o meu segredo
guardá-lo-ei de um modo insuspeito.

Não sei mentir as noites de luar
em que estrelas eram teus olhos brilhando
nossas almas passarinhos a voar
nosso amor ansiedades já chegando.

Não sei mentir lembranças que mantenho
no fundo do meu peito de mulher
mas o tempo e a distância são o lenho
em que o fogo deste amor irá arder…

(Felipa Monteverde)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O mar levou a minha alma

O mar levou a minha alma e eu renasci dentro da concha que encontraste numa praia onde choravas...

(Felipa Monteverde)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Todos os sonhos que sonhei

Todos os sonhos que sonhei
se transformaram
em areia ressequida
de praias onde nunca caminhei…

(Felipa Monteverde)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Silêncio e caminho

Rasguei a noite no silêncio de um mau dia
apaguei a candeia e chorei
adormecendo uma dor que não sentia
e sofrendo tantas outras que calei...

Percebi, no silêncio vazio dessa hora
em que a tristeza te sonha,
mágoas e segredos que alguém chora
lavando as faces negras da vergonha.

Inconsciente, fui entrando pela noite
num sonho clandestino e obscuro...
Que o silêncio é o tempo em que te foste
e um caminho onde ainda te procuro…

(Felipa Monteverde)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

CECÍLIA MEIRELES

(Em http://blog.sitedepoesias.com.br/poemas/motivo/)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um poema da Rosa

Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar ardente do joelho
E o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
Mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente
Ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama.

Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé,
A tua mão dormindo no meu seio.

ROSA LOBATO DE FARIA

(Rosa Lobato de Faria faleceu hoje, aos 77 anos. Uma grande perda para a literatura portuguesa.)

Não sei falar da realidade

Não sei falar da realidade
Só de sonho
E é nele que me ponho
Quando esta dor me invade.

Esta dor de existir
Que não é dor concreta
Mas um doer no sentir…
Como diz qualquer poeta.

Então, nunca descrevo penas
Ou as dores que sinto;
Entro num sonho, apenas
E assim sonhando… minto.

E choro, descrevo mágoas
Sentidas na alma… não
As minhas, que essas guardo-as
Bem fundo, no coração…

E nunca, nunca as mostro
Nunca ninguém as viu
São das uvas o mosto
Que a roda feriu.

Não sei desabafar, só padecer.
Contá-lo? Não me atrevo.
Há quem beba pra esquecer
Eu escrevo.

Por isso, não tenham dó
Não chorem estas penas
Que aqui lêem… elas são só
Ilusões, irrealidade, apenas…

Porque as minhas dores, essas
Permanecem escondidas
Aguardando as promessas
Há muito esquecidas…

(Felipa Monteverde)