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Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.

sábado, 25 de outubro de 2014

Apagão


Talvez todo o tempo do mundo não chegasse
para aquela lagartinha subir o muro. Era
um muro alto. Era uma lagarta pequenina.

Ela iniciou a subida e não se assustou. Nem
com a altura do muro nem com o calor do meio-dia.
Ia subindo, subindo, ligeira na sua lentidão.
Subia, subia. O sol também subia e brilhava.

Lesto aquele pássaro também subiu, procurando
comida. Viu a lagartinha e desceu, acabou-lhe
com a subida. E ela, que nada a assustava,
também não teve medo ao pássaro. Sentiu
simplesmente que se apagou o sol.

Felipa Monteverde

VI ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS
Folheto Edições & Design

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Hoje é o dia de Santo António.
É também o dia do nascimento de Fernando Pessoa e da morte de Eugénio de Andrade. Dois poetas que amo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

À minha avó

Um dia as saudades chegarão, invadir-me-ão
a alma e o coração. A tua lembrança penetrar-me-á
até aos ossos, a dor de não te ter será chaga aberta
para sempre no meu peito.

Mas até lá, deixa-me recordar-te com a alegria
que sentia quando te via, a ternura com que
te pegava na mão. Deixa-me recordar a tua voz,
o teu jeito de ser meigo e bonito. A tua sinceridade
e boa disposição. Deixa-me recordar quem eras,
 porque tu eras a pessoa mais linda do mundo.

Eras a minha vida, o meu amor.
Deixa-me recordar-te assim.

Quando as saudades chegarem, quando
a dor me invadir ao ponto de não conseguir
sentir mais nada a não ser a espada cravada
no coração, então chorarei.

Agora não. Agora só quero
pensar em ti e sorrir, agradecer porque te tive.

Felipa Monteverde

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Borboletas

Gosto de pensar em borboletas. Às vezes,
quando pego no caderno e não sei o que escrever,
vêm-me à ideia frases como esta: a borboleta poisava
nas flores, devagarinho, querendo conversar…

Nunca soube completar as frases. E não gosto
de borboletas, por causa das larvas que comem
as couves e as plantas. Mas são bonitas, sim, são
agradáveis à vista, embora seja uma beleza efémera.
Que não deixa de ser beleza…

Depois de pensar em borboletas fico sem saber
o que escrever. E se insisto só me saem parvoíces.
Mas são as minhas parvoíces, fazem parte de mim…

Hoje é um desses dias. Peguei na caneta e assim fiquei,
de caneta na mão, a olhar para estas páginas e a
pensar em borboletas. Talvez sinta necessidade de voar…


Felipa Monteverde




terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Indiferentemente

De facto
torna-se complicado
aceitar a existência de um ente
que vive dentro de nós
indiferentemente.

Indiferente a tudo
que possamos almejar
neste sentido que ascendemos
a esperar.

E
torna-se complicado
torna-se muito complicado
ser azul entre as estrelas
ser pedra no mar salgado.

Não espero
(nunca espero)
saber descomplicar a vida
só me aborrece esta espera
de uma promessa tardia.

E espero.
Indiferente ao teu ser
que vive dentro de mim
sem eu o conhecer.

Felipa Monteverde