Acerca de mim

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Poeta por inspiração e imposição da alma... Uma pessoa simples, que vive a vida como se fosse a letra de uma canção, o enredo de um filme, a preparação para uma vida superior, à espera da eternidade e do encontro com o Criador.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pedido

Eu não quero que você seja eu
Eu já tenho a mim.
O que quero é que você chegue
Com seu poder de chegar
E de me devolver para mim.
Que você chegue com seu dom
De também me fazer chegar
Perto de mim...
Pra me fazer ver o que sou e que só você viu.
Pra eu ser capaz de amar também
O que só você amou.
Eu não quero que você seja igual a mim.
Eu já tenho a mim.
Não quero construir uma casa de espelhos
Que multiplique a minha imagem por
todos os cantos.
Quero apenas que você me reflita
Melhor do que julgo ser.

(Pe. Fábio de Melo, em "Quem me roubou de mim?")

domingo, 25 de abril de 2010

Abril


Era Abril
Abril das águas mil
e de uma velha
que queimava um carro e um carril...

Foi Abril
Abril de um povo unido
“Somos livres”
que não mais quis ser vencido...

E é Abril
num país que foi de caravelas...
Mas será que significa
algo mais do que uns cravos nas lapelas?

(Felipa Monteverde)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O achamento

No ano 2000, aquando das comemorações dos 500 anos da Descoberta do Brasil, não sei a que propósito em Portugal toda a gente dizia "achamento". Eu achei esse nome inapropriado e na altura compus estes versos, que nunca publiquei.
Ontem foi mais um aniversário, mas eu só hoje me lembrei disso e resolvi publicar aqui esses versos.
Espero que os meus amigos brasileiros não se ofendam...

O Achamento

Achamento, dizem que foi achamento
O que sempre tinha sido descoberta
Mas eu, que não tenho a mente aberta
Continuo a achar que foi descobrimento.

Perdoem o meu fraco entendimento
Minha esperteza é sol de pouca luz
Mas penso que o caso de Vera Cruz
Não foi achado, foi antes descobrimento.

Se bem entende o meu fraco entendimento
Descobriu-se a terra do pau-brasil;
Álvares Cabral, dia vinte e dois de Abril
Ano da graça era o de mil e quinhentos.

Não achou, porque não estava perdido
Mas descobriu, e ficou feliz decerto
Ao saber o que tinha descoberto:
Vera Cruz, por Brasil mais conhecido.

Já me chamam nomes feios, pela certa
Admito não ter mui entendimento
Mas não gosto da palavra achamento
Para mim o vero nome é descoberta…

(Felipa Monteverde)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Voltas da vida

Dou voltas de mim na vida
Sem saber que horas me são
Se são horas da saída
Se serão horas ou não
Meus olhos vão de partida
E eu nem sei por que se vão
Se partem ou é fugida
Para longe de onde estão.

Dou voltas de mim na vida
Sem saber que horas me são
Se horas de despedida
Ou horas de solidão
Na minha alma ferida
Pelos punhais da traição
Onde a mágoa é desmedida
Onde a dor é compaixão
Mas nas voltas que há na vida
Outras horas voltarão...

(Felipa Monteverde)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Eu gostava de ser como as papoilas


Eu gostava de ser como as papoilas
De aveludadas hastes e corolas
Ondulando ao vento no meio dos trigais...
Ter a cor do sangue e da esperança
E viver a vida como quem a dança
Sem me importar de enredos ou finais.

Ser papoila ondulando ao vento
Numa seara de trigo em movimento
Ao sabor do tempo e da aragem…
Que bom seria ser como as papoilas
Que apenas têm de ser lindas e tolas
Bailando ao vento a duração desta viagem

Que é a vida, com passado e com futuro! …

Mas as papoilas também sofrem maleitas
E a foice espreita o trigo já maduro
Ao começar o tempo das colheitas...

Foices ao punho de bonitas moçoilas
Que ao cortarem trigo cortam tudo,
Até lindas papoilas, até lindas papoilas…

(Felipa Monteverde)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Recado aos amigos distantes

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1951)'

(Cortesia da amiga Helô Spitali)