Barquinho que vais passando
No rio da minha terra
Quantos sonhos vais levando
Quantas marés vais matando
Como se foras pra guerra?
Lentamente, lentamente
Olho o rio e olho o mar
Na distância de um batel
Que nunca me leva nele
Por ter medo ao meu olhar.
Olha o barco sem barqueiro
Que vai vogando no rio
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que matará meu fastio?
O rio passa e não passa
Só eu passo e ele não
Que meu sonho o embaraça
E ele finge ser vidraça
Com cortinas de ilusão.
Olho o barco, olho o rio
Olho as vagas uma a uma
Será que aguento o fastio
Sem temor nem arrepios
De vogar por esta bruma?
Tanta bruma e nevoeiro
Que engolem o meu barquinho
Onde está o marinheiro
Destemido e aventureiro
Que guiará seu caminho?
Lentamente vai vogando
De encontro às marés
Que me chamam, pranteando
Os sonhos que vou deixando
Nas quimeras que não vês…
(Felipa Monteverde)
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