Já não há a cantiga, o tempo mentiu passados
e o canto adormeceu. Nem colo há
apenas o frio da cadeira vazia e o lume apagado.
Pendem as chouriças ao fumeiro, os presuntos
um grande ramo de loureiro. A trempe, o pote
agora não são mais do que objetos para o “ferro-velho”
a carrinha passa uma vez em cada mês.
A morte de uma casa começa pela cozinha
quando a cozinha morre todo o resto fica moribundo.
Virão os gatos e comerão os ratos, alimentados das
chouriças que ficaram esquecidas.
Os móveis apodrecerão. As paredes cairão.
O canto ficará adormecido para sempre
numa cadeira ao borralho.
Felipa Monteverde